De Gran Canária à Ilha do Sal, Cabo Verde

Hora de partir, feliz e confiante !!! SPOT !!!
Um depois do outro...
Boa viagem !!!
Tantos barcos atrás de nós...
Mas muitos mais a nossa frente !!!
Apesar dos diversos tons de cinza...
...existe a promessa...
...de que o sol dê o ar da sua graça !!!
Las Palmas vai ficando para trás.
Vários ângulos !!! Várias perspectivas !!!
Mar formado e bons ventos !!!
Depois que os participantes da ARC tomaram a direção dos Portões de Colombo,
pouquíssimos sinais de civilização foram avistados.
O mar continuava judiando... 850 mn dentro de um liquidificador !!!
Ao longo de todo os trajeto, peixes só voadores.
Quantos são necessários para cinco pessoas !!!
Para alívio da tripulação, as 14:00h do dia 02 de dezembro... Terra  a  vista !!!
Chegando perto... cada vez mais !!!
Paisagem árida...
...de aspecto quase lunar. Estávamos um pouco assustados !!!
Mais tarde descobrimos que este é um dos mais badalados restaurantes da ilha.
Sal aí vamos nós !!!


27 de novembro de 2012
Latitude 28°8'29"N e Longitude -015°26'48"W
11:00h

Partimos... deixamos o nosso posto na marina por volta das 11:00h da manhã. É maravilhosos voltar a navegar. Estamos muito felizes... a partida em meio aos mais de 200 veleiros que participam da ARC foi emocionante. Todos juntos e na mesma direção, ao menos neste começo. Era um emaranhado de barcos, mas todos dividindo praticamente o mesmo espaço com muito respeito e segurança. Bastante vento e bastante mar impulsionando a todos e de maneira bastante veloz. A nossa frente, lados e, até mesmo atrás de nós, centenas de outros barcos. Já nas primeiras horas de navegação, o distanciamento era visível. Ao cair da tarde, o número de embarcações que se podia avistar já tinha diminuído cerca de 25%. Assim que se chega ao Sul da Ilha de Gran Canária, cada barco começa a seguir a rota de acordo com a estratégia adotada. Afinal, todos estão competindo e, vence o melhor em tudo... desde o barco, até a tripulação e estratégia.

O fim de tarde nos presenteou com um belo peixe, o único deste trajeto, preparado a moda japonesa e regado a um bom cálice de vinho branco. Nossa rota era independente, fazíamos o caminho de casa, competíamos apenas com o nosso próprio tempo. A esta altura, já sabíamos que não chegaríamos para o Natal em casa. Entretanto, ainda alimentávamos esperanças de chegar a tempo de festejar o reveillon. Veremos !!!

Estamos fazendo uma rota paralela a costa africana e diretamente para a Ilha do Sal, no arquipélago de Cabo Verde. A distância que nos separa do nosso próximo destino são 850 milhas náuticas, a maior já percorrida por nós nesta viagem, sem nenhuma parada. Previsão de bons ventos e mar calmo... serão 6 a 8 dias de navegação.

Já nas primeiras 24 horas conseguimos fazer 180 mn. O Cascalho voou baixo... os ventos alísios estavam realmente constantes e nos empurravam em direção ao sul. Talvez isso nos explique um pouco porque os antigos pensavam que logo abaixo deveria existir um precipício onde o mundo acabava: velejar assim, nesta velocidade, com mar e ventos a favor !!! 

Cerca de 48 horas após termos iniciado esta etapa, já estávamos entrando em águas tropicais: passamos o Trópico de Cancêr, na latitude 23° 26′ 16"N, os ventos continuavam soprando forte, o que era muito bom, mas as saudosas ondas longas do Atlântico não apareceram. Durante praticamente todo este trajeto, a navegação foi mais difícil, o mar que nos jogava de um lado para o outro e as ondas, que apesar de não serem altas, batiam violentamente contra o casco do Cascalho nos assustando um pouco. Ao final do quarto dia, estávamos já um pouco estressados. Afinal, o que se quer é sempre bons ventos com mar calmo !!! O que nos alegrava, é que esta situação nos tinha feito navegar muito bem e, chegaríamos na Ilha do Sal ainda no domingo. Faltava pouco.

Muitos nos perguntam se não sentíamos medo... é claro que sim !!! Afinal, o medo é um sentimento difícil de controlar. Ele vem muito mais em função do desconhecido, por não podermos nos preparar para enfrentar o que vem. Mas, acima de tudo, tínhamos muita confiança nos estudos meteorológicos que fizemos para planejar a travessia, no conhecimento da nossa tripulação e, no barco e nos seus equipamentos de segurança. Apesar do desconhecido, apesar do medo, nos sentíamos seguros. 

Apesar das condições do mar, mais esta etapa foi concluída com sucesso... 850mn, percorridas em apenas 125 horas, com uma média de 6.8 nós ao longo de todo o trajeto. A bordo, muita alegria e um clima de amizade entre todos os tripulantes. Muito bom ter mais pessoas a bordo: conversas, filosofias, poesia, risadas, canastra com direito a campeonato, divisão de tarefas, especialmente os turnos de navegação noturna, enfim, um estilo de vida compartilhado por cinco pessoas em sintonia. Nem o céu cinza, nem o mar mexido nos tiraram a alegria... e, ao chegarmos no Sal, em Cabo Verde um novo e belo mundo nos esperava... heis o glamour da vida que escolhemos para viver !!!

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