De Gibraltar à Las Palmas, Ilhas Canárias

"A Rocha" de Gibraltar ficando para trás...
Águas calminhas.
Tráfego intenso....
...de gigantes dentro do canal.
Dois continentes e dois mares... África a esquerda, águas do canal e Espanha a direita, num mesmo click !!!
Pequena flotilha aproveitando o bom tempo para passar o canal.
Muito frio... e chuva vindo na nossa direção.
Sorte... passou perto mas não nos pegou.
Melhor assim !!!
Depois das ondas gigantes provocadas pelo encontro das águas dos dois  mares. Tão assustador que nem fizemos fotos.
Proa em direção ao Marrocos.
Farol em terras africanas.
Por do sol... fogo caindo do céu !!!
"Presentes" no primeiro dia Atlântico.
Sashimi...
ou com tomate, cebola e laranja. Delícia !!! 
Primeiros golfinhos do Atlântico, sempre uma grande alegria !!!
21 de novembro de 2012: través com Marrocos. Falta muito ainda !!!
Por do sol... a cada dia um novo espetáculo.
Amanhecer... pescar pescar para poder almoçar !!!
Terra à vista !!! Arquipélago das Ilhas Canárias. Esta é Lanzarote.
23 de novembro... mais um belo amanhecer !!! Falta pouco agora !!!
Golfinhos celebrando conosco... mais uma etapa concluída com sucesso !!!
Chegamos !!!
Cidade de mastros... nós também estamos aqui !!!

18 de novembro de 2012
Latitude 36°14'897"N e Longitude -005°35'526"W
07:30h

Acordamos cedinho e conferimos a previsão do tempo: tudo se confirmava. Podemos partir hoje... a expectativa é grande, afinal será a etapa de maior distância a ser percorrida até agora. De Gibraltar até Las Palmas, a capital da Ilha Gran Canária, são aproximadamente 750 milhas náuticas e, dependendo das condições de vento e mar, poderá levar até 8 dias para percorrê-la. Para o Cascalho esta será a primeira experiência de navegação no Atlântico Norte, assim como para Mauriane. O comandante era o único a já ter navegado por estes mares.

Antes de partir, aproveitamos para estocar alguns litros de diesel a mais. Ao todo, entre tanques e reservas, partimos de Gibraltar com 480 litros de combustível.  

Tudo pronto... hora de partir !!! Atlântico, aí vamos nós !!! A soltar nossa amarras, dois simpáticos frentistas do posto de combustível. Eles, como tantos outros, admirando nossa coragem, invejando nossa disponibilidade e desejando boa viagem.

A medida que "A Rocha" ia ficando para trás, o primeiro grande desafio desta etapa aproximava-se mais e mais: vencer o Estreito de Gibraltar com suas correntes muito fortes e que sofrem grandes variações ao longo do dia, sendo palco de inúmeros acidentes com embarcações. O estreito é uma separação natural entre o Mar de Alborão, no Mediterrâneo e o Golfo de Cadiz, no Oceano Atlântico, e entre dois continentes: a Europa e a África. Ao Norte estão a Espanha e Gibraltar. Ao Sul, Marrocos e Ceuta (território espanhol na África). O estreito é a única comunicação entre Atlântico e Mediterrâneo, sua profundidade varia de 280 a quase 1.000 metros e a menor distância entre os dois continentes é de apenas 14,4 Km. Tem uma importância fundamental em termos de comércio marítimo, já que cerca de 85.000 navios passam por lá anualmente.

Meio dia. O horário era perfeito. Partimos no tempo exato para aproveitar o fluxo favorável de maré. Dentro do Estreito de Gibraltar geralmente tem uma forte corrente marítima no sentido oeste-leste provocada pelo fluxo de água atlântica que desemboca para dentro do mediterrâneo para contrabalançar a quantidade de água perdida por evaporação. Além disso, as diferenças de variação entre maré alta e baixa entre os dois, também é muito grande: no Atlântico as variações são bem maiores quando comparadas ao Mediterrâneo. Esta correnteza pode chegar a uma velocidade de até 3 nós. Se tiver vento contrário então, é difícil sair do lugar. Entretanto, quando a maré esta baixando, o movimento de água da maré vai contra a corrente, já que no Atlântico  a maré baixa bem mais e, portanto, a correnteza diminui em alguns nós. Quando passávamos pelo canal, as condições eram ideais: pouco vento de oeste e corrente contrária de pouco mais de 1 nó. Partimos a motor, 2000 giros que nos davam uma velocidade de 6 nós. Mais tarde, usaríamos também as velas mestra e genoa.

A zona do canal é dividida em dois corredores de tráfego bem separados: a direita , vizinho a costa espanhola se sai para o Atlântico; a esquerda, costa marroquina, se entra no Mediterrâneo. Navegamos nos mantendo a cerca de 2 milhas da costa espanhola e prosseguimos assim até a altura de Algesiras, quando nos preparamos para atravessar o corredor de navegação e ir em direção ao Marrocos. Qual não foi a nossa surpresa... enfrentamos por cerca de 1:30h as maiores ondas de toda a viagem. Ondas de 6 a 8 metros de altura nos colocavam lá em cima num segundo e, no outro, iniciava-se uma descida insana até encontrar a água de novo. Apenas um suspiro e chegava outra onda... e assim foi. Era o encontro das águas do Mediterrâneo com as águas do Atlântico. Turbulento, muito turbulento por sinal. Tínhamos acabado de almoçar e o mal estar foi geral... barco, cabeça, estômago, labirinto. Entretanto, o Cascalho e sua tripulação se mostraram corajosos e destemidos. Atravessado este corredor, voltamos a navegar em águas calmas e, até onde nossa vista pode alcançar, as ondas atrás de nos continuavam bem grandes. Por volta das 18:30h desligamos os motores e seguimos só a vela. Tínhamos deixado para trás as 35 milhas náuticas do tão destemido estreito que nos assustou sobremaneira. A nossa frente, um belíssimo por do sol, já com paisagens africanas. Navegamos no Atlântico a 6 nós e com rota de 245° diretamente para o arquipélago das Ilhas Canárias.

A noite foi tranquila e no dia seguinte pudemos perceber bem o que era navegar no Atlântico: ao redor de nós, ondas longas e suaves nos impulsionando sempre mais e mais, com muita doçura e sempre a favor dos ventos constantes de nordeste. Acreditamos serem estes os famosos ventos alísios portugueses. Mar e céu azuis. No céu apenas algumas nuvens brancas. Neste dia o Atlântico se mostrou muito rico e generoso: nos deu dois peixes, um bonito e um dourado, vimos uma tartaruga (a única de toda a viagem) e recebemos a visitas dos três primeiros golfinhos do Atlântico para alegrar o nosso fim de tarde. No nosso terceiro dia de navegação pelo Atlântico, a temperatura da água e do ar já começaram a aumentar, tornando tudo muito mais agradável. O sol passou a ser o nosso companheiro de todos os dias, desde o amanhecer até o anoitecer.

Chegamos ao quarto dia de navegação - 21 de novembro, sem nenhuma novidade: nada de peixes ou golfinhos, nem embarcações, nem terra a vista, nem chuva e nem vento. Tentamos usar a vela genaker, mas o vento era insuficiente, tivemos então que motorar muito neste trecho.

Terra a vista !!! Finalmente em 22 de novembro, por volta do meio dia, avistamos o primeiro grupo das Ilhas Canárias: Montana, Graciosa e Lanzarote. Porém, nós passamos direto. Afinal, o que são 115 milhas a mais para quem já navegou mais de 600?

23 de novembro nos presenteou com um maravilhosos nascer do sol e já por volta das 10 da manhã avistamos Gran Canaria, a nossa ilha. Minutos depois, golfinhos. Muitos golfinhos que brincaram na nossa proa por aproximadamente 40 minutos celebrando com nós o sucesso de mais uma etapa da nossa viagem. Fomos diretamente ao Porto de Las Palmas, uma verdadeira cidade de mastros, onde ancoramos ao meio dia. 750 mn percorridas em 120 horas.

Fechávamos assim, com muito orgulho, o nosso batismo: somos agora velejadores oceânicos!!!

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